3.10.11

Aspectos marcantes da arquitetura piauiense

Quais são os aspectos marcantes da arquitetura piauiense, de uma forma em geral?

Sem dúvida, tentar condensar tais aspectos seria uma atitude ingênua, uma vez que devido à diversidade regional existente no Estado, existem distintos condicionantes variáveis de acordo com o lugar no qual cada arquitetura vem sendo produzida, considerando que a arquitetura é um produto resultante da relação do homem com o seu meio, e por isto ele cria ou adapta soluções próprias à sua realidade local.

Através das pesquisas realizadas pelos grupos “Amigos do Patrimônio Cultural” e “Modernidade arquitetônica” se pode chegar a algumas características marcantes da arquitetura piauiense, que serão pontuadas aqui;

As primeiras influências sofridas foram dos bandeirantes paulistas na arquitetura colonial local, que trouxeram a forma das casas de fazendas paulistas para os sertões piauienses, com telhados em quatro ou duas águas, com grandes beirais, e uso de varandas, com a função de servir de transição entre o interior e o exterior, além de amenizar a temperatura dos ambientes internos, criando uma proteção climática.

A presença da palmeira carnaúba é tão constante na produção e cultura local, que pode ser encontrada desde casas auto construídas, até em projetos de padrões altos, como os realizados pelo designer Gerson Castelo Branco no litoral piauiense.

Este tema é tão rico e abrangente, que mereceria um espaço maior para uma discussão mais aprofundada. As pesquisas mostram uma diversidade da aplicação da carnaúba na arquitetura nos diversos períodos estilísticos, comprovando a importância deste material no cenário local.

O uso de produtos cerâmicos é outra constante na produção arquitetônica local, devido à existência de uma tradição mantida ao longo dos anos, fortalecida pela qualidade do barro, e a pouca existência de salitre na composição da argila. É grande o número de fábricas de produtos cerâmicos, como telhas, tijolos e pisos, que exportam o material produzido para diversas cidades brasileiras. Desperta interesse, os telhados das casas piauienses, em todos os períodos, marcados pelo emprego de telhas cerâmicas tipo canal paulista, com grandes beirais que protegem climaticamente, criando áreas sombreadas.

A busca por soluções climáticas: vem a ser outra constante, através da presença de soluções em planta como o emprego de pátios, varandas, que criam micro climas nas edificações. Observam-se também, soluções realizadas com entradas e saídas de ar dos ambientes, que buscam minimizar as altas temperaturas locais.

Outro ponto a ser abordado diz respeito ao atraso em relação à adoção do estilo moderno na arquitetura local, que só veio a ser empregado a partir do final dos anos 50. A modernidade tardia local teve a sua produção concentrada nos anos 70, contemporânea à produção brutalista, que foi bastante forte. Foi o estilo eclético , que predominou durante anos na produção de edificações nas cidades piauienses, despertando interesse os casarões construídos em Parnaíba, Piracuruca, Amarante e Teresina. Estes possuem uma excelente qualidade projetual e construtiva, denotando a força deste estilo no Piauí.

O estudo realizado sobre modernidade arquitetônica pelo grupo de pesquisas que investiga a documentação relativa ao tema tem observado a importância das escolas carioca e recifense na formação dos profissionais que atuaram nesta época, trazendo para o Piauí as influências do discurso teórico e prático destas escolas, com a adoção dos critérios projetuais existentes tais com o uso de modulações sistemáticas em planta e em volumetria, a busca por adaptações climáticas na adoção do vocabulário plástico-formal moderno, o emprego de telhados “asa de borboleta”, entre outras soluções.

O grupo de pesquisa “Modernidade Arquitetônica” vem realizando um trabalho constante de investigação, levantando dados em coletas realizadas nos arquivos particulares dos arquitetos e de seus familiares, realizando um importante resgate deste patrimônio recente, e de seus mais importantes representantes, tais como os arquitetos Anísio Medeiros, Antonio Luiz Dutra, Moisés Caddah, Raimundo Dias, entre outros. O acervo que vem sendo mais estudado até o momento é de Teresina e o de Parnaíba, cidades possuidoras de um maior número de exemplares.

Fonte:

AFONSO, Alcilia. Documentos da arquitetura piauiense. Belo Horizonte: Anais de 2o.Seminário em Arquitetura e Documentação.2011

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