desenho de Le Corbusier.Principios de Urbanismo.1957.
Relendo recentemente o livro escrito pelo mestre Le Corbusier, “Princípios do urbanismo”, pude refletir um pouco sobre a contemporaneidade daquelas reflexões realizadas nos anos 30, por uma série de importantes arquitetos e urbanistas, que até hoje poderia servir de inspiração para a melhoria das nossas cidades, nas quais os problemas habitacionais continuam sendo um dos principais pontos a serem trabalhados.
Problemas como ruas sem saneamento, sem coleta de lixo, descaso político com o problema da saúde e bem estar da população, faltas de áreas de lazer e recreação, grandes distâncias do local de trabalho (quando estes habitantes possuem trabalho...), continuam cada vez mais agravados.
Em 1933, na cidade de Atenas, na Grécia, foi realizado o 4º. Congresso Internacional de Arquitetura Moderna/CIAM, no qual foram analisadas 33 cidades, sendo realizada em seguida, uma carta/documento sobre um diagnóstico do urbanismo naquela época.
De acordo com a Carta de Atenas, “el nombre Atenas aparecia como um escudo resplandeciente, y la palabra Carta como um mandato para pensar rectamente”(Le Corbusier,1957,p.6), as chaves do urbanismo moderno estavam contidas nas quatro funções fundamentais reconhecidas pelo CIAM: habitar, trabalhar, cultivar o corpo e o espírito, circular.
Na parte dedicada às conclusões da Carta de Atenas, entre os pontos doutrinais apontados, no item referente às chaves do urbanismo, está escrito que (p.119):
“el urbanismo tiene cuatro funciones principales, que son: en primer lugar, garantizar alojamientos sanos a los hombres, es decir, lugares en los cuales el espacio, el aire puro y el sol, esas tres condiciones esenciales de la naturaleza, estén garantizados con largueza;”
E refletindo sobre este direcionamento, que lugares saudáveis à saúde humana, os governos têm se preocupado em desenvolver uma política habitacional, voltada para este aspecto? Espaços, ar puro e sol, como condições essências da natureza, e que possam ser desfrutados livremente, como um direito do cidadão???
Parece até utópico, tal proposição para a existência de um “pobre cidadão” esquecido e marginalizado na sociedade contemporânea, que vive sim, em barracos insalubres, casas de papelão ou outros precários materiais construtivos, às margens de canais, infestados de mosquitos, com mal-cheiros devido a não coleta de lixo,sem banheiros,sem saneamento e esgotamento sanitário, sobrevivendo nas cidades como animais, buscando uma forma de continuar lutando de forma ainda primitiva(que contradição com a sociedade do século XXI,pós-moderna!!!)para conseguir seu alimento e abrigo.
Continuando as doutrinas da Carta de Atenas, coloca Le Corbusier:
“en segundo lugar, organizar los lugares de trabajo, de modo que éste, en vez de ser una penosa servidumbre, recupere su carácter de actividad humana natural; en tercer lugar, prever las instalaciones necesarias para la buena utilización de las horas libres, haciéndolas benéficas y fecundas; en cuarto lugar, establecer la vinculación entre estas diversas organizaciones mediante una red circulatoria que garantice los intercambios respetando las prerrogativas de cada una.”
Sim, que todas estas propostas parecem muito surreais na nossa contemporaneidade. Os pobres sobreviventes de nossas favelas nem trabalho possuem, quanto mais pensar em que eles poderiam estar vivendo próximos aos seus lugares de trabalho!Próximo de seus lugares de trabalho, vivem aqueles que podem pagar para ter tal "luxo"...
E quanto à previsão de lugares para recreação e ócio? Basta observar um conjunto habitacional nas nossas cidades brasileiras e ver como este segmento é tratado. O que os agentes envolvidos têm feito, a não ser passar literalmente o trator, derrubar toda a vegetação existente, construir casas gaiolas, sem ruas com calçamento, sem praças, sem parques, sem infra-estrutura social e comercial nenhuma???
E quanto à questão da circulação, é até cômico falar neste aspecto. Pedestres são desrespeitados, os transportes públicos caóticos, inexistem ciclovias, e as ruas e passeios muitas vezes, nem revestimento adequado possuem.
Não sei, mas às vezes penso, aonde vamos chegar com este nível que cada vez baixa mais e piora em termos de intervenções urbanas e arquitetônicas em nossas cidades. Estes políticos e administradores não estão preocupados de fato com nada disso, para eles tanto faz este caótico quadro, aliás, penso que até lhes parecem favoráveis, pois não deixa de ser uma forma do povo cada vez mais miserável, necessitar seus “ favores”.
Referencia bibliográfica:
Fonte: Le Corbusier. (1989). Principios do Urbanismo(La Carta de Atenas). Barcelona: Editorial Ariel S.A.(tradução e edição da original La Chartre d’Athènes,1957,Fondation Le Corbusier e Éditions de Minuit,Paris).
Um comentário:
Ola. Gostaria de perguntar se haveria uma chance de me facultar um resumo desse livro de Corbusier.
Se for possivel essa preciosa ajuda, aqui fica o meu email:
k0zindan@hotmail.com
(não é uma letra é o numero zero - k(zero)zindan
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