25.4.10

Mimbó: tradição/ cultura e arquitetura.



Foto: Kaki Afonso. 2009

Mimbó: um povoado que está situado próximo ao município de Amarante, e que preserva resquícios da cultura africana no estado do Piauí.

Foto: Kaki Afonso. 2009

O lugar no qual vive esta comunidade está localizado às margens de um vale, e sua população vem tentando manter a sua identidade cultural, apesar das tentações e influências da vida contemporânea.



foto: Kaki Afonso. 2009

Poderia ser preservado pelo Iphan, se o escritório regional local adotasse o conceito de paisagem cultural, considerando que a paisagem requer medidas legais e efetivas para sua proteção e defesa.


foto: Kaki Afonso. 2009


O Iphan nacional instituiu a figura da Paisagem Cultural Brasileira, através de Portaria nº 127 de 30 de abril de 2009, e segundo esta portaria, essa nova modalidade de reconhecimento de valores de sítios e paisagens de significação cultural é aplicável a porções peculiares do território nacional, representativas do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores.



Foto: Kaki Afonso. 2009

O acervo cultural ali existente é de grande valor, devido a seus atributos históricos, naturais e culturais que fazem desta comunidade um caso único no Estado.

A arquitetura das habitações ali existentes é predominante em tijolos de adobe, e em taipa, com paredes estruturadas com talos de palmeiras, que também são empregadas nas cercas/ muros.

Quase todas as casas possuem uma pequena varanda, com peitoril baixo, área de maior permanência dos habitantes, que ali ficam, descansando, conversando, ou simplesmente, contemplando o vai-e-vem das pessoas nas ruazinhas do lugar.

Foto: Kaki Afonso. 2009

As pessoas desta comunidade são de uma beleza que trazem em seus traços, a etnia negra, que é predominante no local, com pouquíssima miscigenação racial.


Foto: Kaki Afonso. 2009

As danças tradicionais são também preservadas, e repassadas para os mais jovens pelos adultos, que realizam apresentações também, fora da comunidade.


Foto: Kaki Afonso. 2009


Foto: Kaki Afonso. 2009

Habitação de interesse social em Teresina


A habitação caracteriza- se por ser um bem de consumo de características singulares, constituindo um elemento durável e de elevado valor. Infelizmente, uma parcela significativa da população não dispõe de condições financeiras para tal aquisição, constituindo-se assim, em demanda imediata por habitação no Brasil. A habitação quando se baseia na produção a baixo custo, no emprego de materiais alternativos e com propósito de servir a classe menos favorecidas, denomina-se habitação de interesse social.



Casa em troncos de carnaúba: zona litorânea do Piauí.

foto:Kaki Afonso.2008.



Detalhe da parede em troncos de carnaúba: zona litorânea do Piauí.

foto:Kaki Afonso.2008.


Observa-se que a maior parte do déficit habitacional piauiense se concentra, na capital do Estado. Contudo, apesar desta realidade, inexiste na administração municipal de Teresina, um órgão ou departamento que seja responsável pelas políticas habitacionais, estando os programas e ações, diluídas em setores municipais.

O que há é uma divisão de ações distribuídas entre quatro superintendências de desenvolvimento urbano/ SDU (Centro/norte, sul, leste e sudeste) e uma superintendência de desenvolvimento rural/ SDR, que são vinculadas à Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação- SEMPLAN e que desenvolvem os programas habitacionais urbanos.

Os setores que possuem interface com o setor habitacional, além dos citados anteriormente, são a SEMF/ Secretaria Municipal de Finanças, que atua na deliberação de recursos, e a SEMAM/ Secretaria municipal do meio ambiente e recursos hídricos, que fiscaliza e controla as áreas ambientais e dos impactos sofridos pelas ações.

Além disso, possui como mecanismos institucionais de participação e controle social das políticas urbanas, o Conselho de Desenvolvimento Urbano/ CDU, criado em 1989, através de lei municipal; o Conselho estratégico de Teresina, criado em 2002, através de lei, para acompanhar o Plano Estratégico de Teresina; o Conselho Gestor do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social, criado em 24 de dezembro de 2008, através da Lei Municipal No. 3837; e o Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social, criado em 24 de dezembro de 2008, através da Lei Municipal No. 3837.


Observou-se ainda, que não possui especificamente um Conselho das Cidades, nem tampouco um Conselho Municipal de Habitação. De acordo, com “Teresina Agenda 21/ Plano de Desenvolvimento Sustentável” (2002), 80% da população moram em imóveis próprios, porém inseridos em vilas e favelas, apresentando precariedade na estrutura física das habitações, coabitação, adensamento excessivo e saneamento inadequado, proporcionando um déficit quantitativo em números absolutos, de 60.232 unidades, sendo 51.145 unidades na área urbana, e de 9.087 unidades na área rural (Fundação João Pinheiro/ SNH/ Mcidades. 2000).


Deste número, foi observado, que 10% dos imóveis estão localizadas em áreas impróprias para o setor habitacional: 4,5% estão implantadas em áreas de risco, 3,6% em leitos de rua e 2,8% em áreas alagadiças.


Observa-se que, nos últimos cinco anos, a antiga COHAB- PI, atualmente denominada ADH-PI / Agência de Desenvolvimento Habitacional, é que vem realizando um trabalho constante na cidade, e infelizmente, desassociado da política municipal, que conforme foi visto, não possui ainda uma linha constante e administrativamente ativa, realizando projetos e programas “soltos”.


A oferta pública de habitação no Estado pode ser dividida, segundo dados coletados no documento “ Revisão do Plano Estadual de habitação de interesse social do Piauí”(2010) em: (i) produção pela COHAB-PI, entre 1963 e 2007; (ii) produção pela ADH, a partir de 2007; (iii) produção por outros órgãos estaduais e federais como INCRA, FUNASA, Defesa Civil, Programa de Combate a Pobreza Rural; (iv) produção pelos municípios; (v) produção por entidades sem fins lucrativos com financiamento público.




Conjunto Jacinta Andrade.Teresina:Santa Maria da Codipi.

Foto: arquivo ADH/PI



texto: Afonso, Alcilia.

21.4.10

A pesquisa sobre arquitetura moderna em Teresina.


Perspectiva do projeto original do Centro Administrativo do Piauí.
Autoria: Raimundo Dias e equipe
Coleta:Cintia Bartz

A cidade de Teresina, capital do estado do Piauí, é uma cidade planejada e relativamente nova, quando comparada às demais capitais brasileiras de origem colonial, pois data de 1852 a instalação da nova capital. Situada na Chapada do Corisco, região de transição entre o sertão e a Mata dos Cocais, é cortada por dois rios, o Parnaíba e o Poti, possuindo seis meses de período chuvoso (dezembro a maio) e seis meses de estiagem (junho a novembro), com altas temperaturas durante todo o ano, e alta taxa de umidade.

O estilo eclético predominou na cidade desde a sua fundação até a década de 50 do século XX, e a adoção de uma arquitetura moderna só foi possível nos anos 60, com a construção dos primeiros edifícios modernos institucionais, e das casas modernas projetadas pelo arquiteto piauiense Anísio Medeiros e pelo mineiro Antônio Luiz. Ambos de formação acadêmica carioca.

Observando-se a produção arquitetônica no período das décadas de 50 a 60, época de grande desenvolvimento no setor imobiliário durante o pós-guerra em todo o mundo e no Brasil, constata-se que, Teresina, nesta época, ainda era bastante provinciana, e poucas obras públicas foram produzidas neste período, segundo cita Nascimento (2002). O setor privado, contudo, produziu residências, principalmente na artéria principal da cidade na época, antiga Avenida Getúlio Vargas e hoje, Avenida Frei Serafim, que abrigou belos exemplos de arquitetura moderna em toda a sua extensão, bem como, em ruas paralelas ao seu entorno.

Os primeiros projetos modernos eram realizados no Rio de Janeiro, como, por exemplo, os desenvolvidos para o DER e para o Teatro de Arena, adotando os princípios da escola carioca, que baseada na teoria de Lúcio Costa, buscava alternativas climáticas para a utilização da linguagem moderna. Somente no final dos anos 60 é que chegaram à cidade, arquitetos como Antônio Luiz e Miguel Caddah que começaram a desenvolver de uma forma mais contínua intervenções modernas na paisagem urbana.


Teatro de Arena.Autoria desconhecida.
Foto:Kaki Afonso.2008.


O início da produção de Antônio Luiz, mineiro de Juiz de Fora, que estudou na FNA/ RJ, data de meados dos anos 60, e a partir de 1968, criou o escritório “Maloca”, que deu início a uma série de trabalhos que adotaram os critérios da modernidade universal, trazendo para a cidade, a linguagem já disseminada em várias capitais brasileiras.

Antônio Luiz produziu os edifícios mais significativos da cidade, tais como a sede do Ministério da Fazenda, o Palácio do Comércio, o Instituto de Educação, a Casa do Estudante, a sede da CEPISA, várias sucursais do BEP, entre tantos outros projetos, que sempre partiam do princípio que “arquitetura e estrutura não deveriam jamais ser pensados por cabeças diferentes” (Afonso, 2002, p.60).

Miguel Caddah, arquiteto piauiense que também estudou na FNA/ RJ, retornou para Teresina no início dos anos 60, e produziu, principalmente na área educacional, uma série de projetos para o Estado, uma vez que era funcionário público, tendo a oportunidade de desenvolver obras que traziam em seu bojo, a essência do movimento moderno, com a utilização de modulação, atenção à estrutura e aos novos materiais.

Uma das obras mais significativas de Caddah é a Igreja da Santíssima Trindade em Teresina, que data de 1968, e apresenta uma composição em triângulos, emprego de estrutura metálica, resultando em uma arrojada forma plástica que marca a paisagem até nossos dias.

Outro importante personagem que mesmo sendo piauiense, não chegou a morar em Teresina, depois de graduado em arquitetura pela FNA/ RJ, foi Anísio Medeiros, mas que mesmo assim, pode deixar na cidade a sua marca, através de bons exemplares de sua arquitetura, como a casa Zenon Rocha, a casa David Cortelazzi e a sede do Iate Clube. Seus projetos residenciais utilizam todo o vocabulário formal moderno. Empregou em suas obras: volumes puros, grandes panos de esquadrias, pilotis e arrojadas soluções arquitetônicas, seja no partido adotado, seja no emprego de novos materiais.

O arquiteto Anísio Medeiros nasceu no Piauí, mas foi estudar desde cedo no Rio de janeiro, onde permaneceu até sua morte. No inicio de sua carreira, desenvolveu projetos em Teresina, havendo projetado também na cidade de Parnaíba, o Igara Clube.

Não obstante, o que marca sua produção é a preocupação em buscar soluções climáticas para estes projetos. A utilização de pátios internos (com jardins que chegaram a ser detalhados pelo arquiteto), o uso de cobogós (invenção da arquitetura recifense da década de trinta), o emprego de esquadrias com venezianas de madeira (permitindo uma circulação constante de ar), bem como o uso de ventilação cruzada nos ambientes (com pés-direitos generosos), denotam a busca de uma arquitetura bioclimática sem se distanciar da aplicação formal do modelo moderno.” (Afonso, 2002, p.58).

Atuava também como artista plástico, havendo criado vários painéis executados em Cataguazes e na cidade do Rio de Janeiro, sendo de sua autoria, todos os painéis existentes no Monumento aos Pracinhas.Trabalhou posteriormente com cenografia de filmes, tendo recebido vários prêmios.

O arquiteto e professor carioca Acácio Gil Borsoi, sediado em Recife a partir da década de 50, também produziu importantes obras modernas em Teresina, tais como o Fórum de Justiça, a sede da Assembléia Legislativa, e obras de intervenção em edifícios históricos, desenvolvidas juntamente com sua esposa e arquiteta Janete Costa: reformas na sede da Prefeitura de Teresina, no Palácio do Karnak e no Teatro 4 de Setembro. Todos estes edifícios são neoclássicos, e sofreram intervenções realizadas sem descaracterizar a volumetria dos mesmos.

Além desta produção, existem também àquelas desenvolvidas por arquitetos que estudaram em cidades como Recife, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, que na década de 70, retornaram à Teresina e aplicaram na cidade, o aprendizado adquirido em suas formações, trazendo os recursos da modernidade que foram difundidos por seus mestres.

Além destes profissionais,, chegaram também à cidade, arquitetos oriundos de cidades como Recife (Ricardo Roque) e Fortaleza (João Alberto), que estavam imbuídos de produzir uma arquitetura em sintonia com o seu tempo.Tais fatos contribuíram bastante para uma renovação da linguagem arquitetônica na cidade, que durante muitos anos adotava o ecletismo como estilo arquitetônico projetual.


Rio Poty Hotel.Projeto:Ricardo Roque
Foto:Jandiane Braga.2008.