30.1.08

SUSTENTABILIDADE NA ARQUITETURA E NO URBANISMO: UMA PROPOSTA PARA A CRIAÇÃO DO JARDIM BOTÂNICO DE TERESINA.

O objetivo deste artigo é divulgar o trabalho que vem sendo realizado para a elaboração do projeto arquitetônico para a criação do Jardim Botânico de Teresina, que vem sendo desenvolvido pelo grupo de pesquisa em projetos do curso de arquitetura e urbanismo da UFPI, coordenado pela Prof.dra. Alcilia Afonso. A proposta conta inclusive, com o aval do IBAMA e da secretaria Municipal de Planejamento, através dos técnicos da Agenda 21 e trabalha como base conceitual, a arquitetura sustentável e bioclimática, relacionada com a racionalidade arquitetônica.

De acordo com a Constituição Federal de 1988, “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes gerações futuras”.

Dessa forma, o projeto de criação do Jardim Botânico de Teresina tem como objetivos, promover a pesquisa, a conservação, a preservação, a educação ambiental e o lazer compatível com a finalidade de difusão da flora e sua utilização sustentável; proteger espécies raras ou silvestres, ameaçadas de extinção; promover intercâmbio cientifico, técnico e cultural com entidades e órgãos nacionais estrangeiros, estimulando e promovendo a capacitação de recursos humanos, além de desenvolver uma política de educação ambiental: uma área que além de preservar o meio-ambiente, possa proporcionar ao cidadão, opções de lazer, ócio e ao mesmo tempo, inseri-lo no processo de educação ambiental.

A metodologia trabalhada vem a ser a aplicada na disciplina de projetos arquitetônicos, trabalhando inicialmente com o reconhecimento da realidade construída, levantando dados in loco, sobre as condições do entorno, do terreno, da quadra e o bairro, bem como os aspectos históricos e culturais que estão relacionados com aquela região urbana. Posteriormente, foi realizado um estudo

sobre a legislação e uso do solo, e uma avaliação sobre os condicionantes naturais: dados climatológicos, topografia, vegetação e tipo de solo.

Após o diagnóstico realizado na primeira etapa do projeto, foi elaborado um programa de necessidades, no qual ouviu-se os agentes diretamente envolvidos com o futuro Jardim Botânico.

O programa de necessidades do Jardim Botânico de Teresina proposto abarca um setor administrativo; núcleos de educação ambiental, composto por oficinas de arte educação e ambiente, bibliotecas, auditório e museu de ciências naturais; núcleo de pesquisa ambiental, composto por laboratórios para estudo da fauna e flora, herbários, biblioteca setorial; jardim dos sentidos com infra-estrutura para apoiar a visitação de deficientes físicos como opção de lazer e tratamentos para sensibilização de odores, sons, toques; uma praça de alimentação para apoiar as visitações dos estudantes à área, com refeitórios, baterias sanitárias e cozinha de apoio; além de um tratamento paisagístico adequado para as trilhas, trabalhando com a limpeza das vias, sinalização e mobiliário urbano (lixeiras, bancos, postes e iluminação) das mesmas, além de beneficiar também o acesso a deficientes físicos para que possam usufruir da área.

A intervenção arquitetônica nos edifícios projetados trabalhou baseada nos princípios de sustentabilidade ambiental, dado ênfase desde o inicio à correta implantação dos novos edifícios, privilegiando a escolha de áreas, que minimizassem os problemas de extensão da infra-estrutura, também, levando-se em consideração a recuperação de áreas degradadas no parque, que necessitam de imediatas intervenções, após análises realizadas pelo diagnóstico.

Sem dúvida, no caso da cidade de Teresina, possuidora de uma latitude de 5º sul, a orientação solar é o elemento mais importante para o desempenho energético dos edifícios projetados. Por isso, a atenção dada à correta orientação dos edifícios foi fundamental no partido arquitetônico adotado, a fim de solucionar o problema climático teresinense, que chega a temperaturas dos 40º , com a inexistência de uma ventilação constante, uma vez que a capital piauiense está implantada a 350km do litoral, possuindo características geográficas que favorecem o aquecimento.

A questão das aberturas dos edifícios e seus devidos fechamentos também foi outro ponto importante considerado no projeto, observando-se a compatibilidade destes com a orientação dos mesmos. Complementando-se tais recursos, com a utilização correta de especificações de materiais, estudando-se não somente a energia acumulada durante o uso, mas também aquela eventualmente absorvida em sua produção, evitando a utilização de materiais inadequados para a realidade sócio-cultural e econômica local.


Figura 01: Proposta desenvolvida por equipe de alunos utilizando soluções racionais e bioclimáticas em plantas e volumetrias dos edifícios.(3D:Valério Araújo)

Figura 02: Nas propostas do grupo foram trabalhados recursos que buscam a sustentabilidade dos edifícios, com atenção especial à melhoria climática.(3D:Valério Araújo)

RESULTADOS PARCIAIS

Após a realização das etapas do projeto, compostas por diagnóstico da área, estudos preliminares, anteprojeto e elaboração de propostas para o projeto básico, o próximo passo a ser dado será a apresentação do mesmo às autoridades municipais, estaduais e federais envolvidas com a gestão do meio-ambiente em Teresina, a fim de que algo seja feito no sentido de retirar do abandono no qual se encontra, a área verde de 32 hectares localizada no bairro do Mocambinho.As propostas desenvolvidas pelo grupo de pesquisa alcançaram um excelente grau projetual que merecem ser consideradas pelas autoridades públicas e serem aproveitadas em prol da melhoria da qualidade de vida da comunidade teresinense, que urge por qualificação urbana ambiental.

AGRADECIMENTOS

Ao IBAMA/ Piauí; a Secretaria Municipal de Planejamento; e aos alunos do grupo de pesquisa em projetos arquitetônicos da UFPI, que colaboraram no desenvolvimento da pesquisa e das propostas: Ana Rosa Negreiros, Valério Araújo, entre outros.

BIBLIOGRAFIA

ANDREOLI ,E & Adrian Forty.(2004). Arquitetura Moderna Brasileira. Londres:Phaidon.700p.

CUNHA, E (coord). (2005) Elementos de Arquitetura de Climatização Natural. 2ed. Passo Fundo: UPF, 180p.

DEL RIO, V. (1990).Introdução ao Desenho Urbano no processo de planejamento. São Paulo: Pini.320p.

HOLANDA, A (1976). Roteiro para construir no nordeste. Arquitetura como lugar ameno nos trópicos ensolarados. Recife: UFPE. MDU.90p.

LAMAS, J.M.G.(2000) Morfologia Urbana e desenho da cidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.630p.

LYNCH, K.(1980). Planificación del sitio. Barcelona. Ed. Gustavo Gili.520p.

PIÑON, H. (1998).Curso Básico de Proyectos. Barcelona: Ediciones UPC.200p.

PIÑON, H. (2006). El Proyecto como (Re)Construcción. Barcelona: Ediciones UPC.260p.

PIÑON, H. (2005-2006). Materiales de proyecto. volumes 1,2,3.Barcelona: ETSAB.300p.

18.1.08

A atuação da mulher na arquitetura.


Um fato vem me chamando a atenção como arquiteta e professora universitária: a quantidade de mulheres que estudam e atuam no mercado arquitetônico. De duas turmas que leciono no curso de arquitetura e urbanismo da UFPI, apenas 23% são do sexo masculino, o que claramente demonstra a predominância das mulheres na arquitetura.

Infelizmente, apesar de tal fato, o mercado ainda é machista em determinadas áreas, como, por exemplo, ocorre com a elaboração de projetos arquitetônicos de grandes empreendimentos, ficando destinados às mulheres, projetos de arquitetura de interiores, ou mesmo, a área de ensino, pesquisa, preservação e paisagismo.

Mas, cabe a nós, arquitetas, profissionais liberais ou não, reforçar o nosso papel nesta sociedade e a importância do nosso trabalho em todos os campos da arquitetura e do urbanismo. Esta coluna, portanto, será dedicada a divulgar o trabalho de brilhantes arquitetas internacionais, nacionais e locais que muito vêm contribuindo para o desenvolvimento do saber arquitetônico em todas as partes do mundo, como veremos a seguir com arquitetas de origem alemã, italiana, iraquiana, japonesa, e brasileiras.


Lilly Reich




Designer alemã, nascida em Berlim, em 16 de Junho de 1885, foi companheira pessoal e profissional do arquiteto Mies Van der Rohe, durante treze anos(1925/1938). Aos 29 anos (1914) abriu seu próprio escritório onde realizou uma série de trabalhos, e em 1920, tornou-se a primeira mulher diretora do Deutsche Werkbund, a Bauhaus, a mais importante escola de arte e arquitetura vanguardista do século XX, que revolucionou os conceitos e a prática profissional na época. No período no qual trabalhava em parceria com Mies, criou uma série de 15 cadeiras, que se tornaram peças clássicas do design moderno, entre elas as poltronas Barcelona e Brno. Seu trabalho era reconhecido pela limpeza plástica, discrição e elegância.Sem dúvida, é um dos principais nomes do design moderno, havendo contribuído bastante com os projetos de Mies na época para o Pavilhão de Barcelona e a casa Tugendhat em Brno.


Lina Bo Bardi



Achillina Bo,conhecida como Lina Bo Bardi, nasceu em Roma em 5 de dezembro de 1914, graduando-se na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Roma. Casou-se com o jornalista Pietro Maria Bardi em 1946 e neste mesmo ano, em parte devido aos traumas da guerra e à sensação de destruição, veio para o Brasil, país que acolheu como lar e onde passou o resto de sua vida , se naturalizando brasileira em 1951. Mulher inquieta, culta e inteligente, logo manteve contato com os principais nomes da modernidade arquitetônica brasileira, tendo iniciado no Brasil um importante conjunto de obras, nos quais se destacam em São Paulo, a Casa de vidro, a sede do MASP, o SESC Pompéia; e em Salvador, a restauração do Solar do Unhão.


Zaha Hadid



A arquiteta iraquiana nasceu em 31 de Outubro de 1950 em Bagdá e seu trabalho se identifica com a corrente desconstrutivista da arquitetura. Em 2004, Hadid se tornou a primeira arquiteta mulher a receber o Prêmio Pritzker de Arquitetura pelo conjunto de sua obra. Anteriormente ela também foi premiada pela Ordem do Império Britânico pelos serviços realizados à arquitetura. Trabalhou com o seu professor, o arquiteto Rem Koolhaas. Em 1979, passou a estabelecer prática profissional própria em Londres. E daí por diante, sua obra passou a possuir certo renome. Possui projetos executados na Europa, América do Norte, destacando-se entre estes: Vitra Fire Station (1993), Weil am Rhein, Alemanha; Centro Rosenthal de Arte Contemporânea (1998), Cincinnati, Ohio, EUA; Terminal Hoenheim-North & estacionamento (2001), Estrasburgo, França.


Toshiko Mori



É uma arquiteta que vem atuando com escritório em Nova Yorque desde 1981, sendo também professora em Havard. Seus projetos se caracterizam por trabalhar com os recursos da modernidade, denotando uma nítida influência miesiana, presente nas transparências espaciais, atenção à estrutura e ao detalhe. Possui projetos executados em varias cidades americanas, destacando-se os desenvolvidos na área comercial, residencial e institucional. Desenvolve trabalhos para as marcas Yssey Miyake, Comme des Garçons. Sua produção é limpa, transparente, clássica e moderna ao mesmo tempo: essencial.


Janete Costa



A arquiteta pernambucana Janete Ferreira da Costa nasceu na cidade de Garanhuns, no ano de 1932, havendo estudado em Recife e no Rio de Janeiro. Tem trabalhos realizados em todo o Brasil, e no exterior, sendo reconhecida como uma das mais importantes arquiteta de interior brasileira. Foi aluna de Acácio Gil Borsoi e depois se tornou sua esposa e companheira profissional, e segundo depoimento do arquiteto, foi ela a pessoa quem mais o incentivou a torna-se o grande arquiteto que é. O trabalho de Janete tem como características, além da linguagem contemporânea, o profundo conhecimento dos materiais e da sua adequação e coerência com os ambientes criados, a valorização do artesanato brasileiro e a criação de design exclusivo e personalizado para os projetos. Foi ela quem introduziu o artesanato na arquitetura de interiores no Brasil, trabalhando com o contraste entre rusticidade e refinamento. Atua com escritório de arquitetura de interiores no Rio de Janeiro e em Recife, realizando projetos em todo o território nacional.

Rosa Kliass

A paulista Rosa Grena Kliass é arquiteta- paisagista considerada uma das mais importantes na história do Paisagismo brasileiro moderno e contemporâneo. Entre suas obras destaca-se a reforma do Vale do Anhangabaú e o projeto paisagístico do Parque da Juventude, ambos na cidade de São Paulo. É graduada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) em 1955, tendo estabelecido desde então prática profissional ligada predominantemente à arquitetura paisagística, sendo ganhadora de inúmeros prêmios nesta área. Também é consultora de diversos órgãos estatais, e autora de vários trabalhos publicados no país e no exterior. Além de sua prática profissional em projetos de parques, escreveu uma das obras referências na área, o livro Parques urbanos de São Paulo, desenvolvido a partir do tema de sua dissertação de mestrado, defendida em 1989 na FAUUSP. É fundadora e ex-presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP).

Arquiteta, professora adjunta do curso de arquitetura e urbanismo.DCCA/ CT/ UFPI.Doutora em projetos arquitetônicos pela ETSAB/ UPC.

13.1.08

O emprego e difusão do telhado em asa de borboleta na arquitetura moderna brasileira.

“Lembro-me quando criança, na década de 70, quando vivia em uma casa na praia de Tambaú, na cidade de João Pessoa, de sua fachada marcada por um telhado com formato de asas, que jamais saiu de minha memória, e que somente anos depois, tive a oportunidade de investigar sobre o porquê de sua existência...”


figura 01


figura 02

A solução em utilizar cobertas em duas águas com o deságüe até o centro, simplificando a recolhida da água, repercutindo no valor do espaço interno, começou a ser usado pela primeira vez por Le Corbusier y Pierre Jeanneret, em um projeto não construído para a Casa Errázuriz, Zapallar, no Chile, em 1930.Em 1935, na Ville La Sextant, em La Palmyre-les Mathes, nos arredores de La Rochelle, a casa projetada para finais de semana, empregando materiais vernaculares, também foi projetada com um telhado em duas águas convergindo para o centro.

Posteriormente o telhado em “asa de borboleta” , como é conhecido, foi adotado na arquitetura moderna brasileira, através principalmente das obras de Oscar Niemeyer, nos finais dos anos 30, como a casa M. Passos (1939), alcançando uma maturidade formal no projeto do Yacht Clube de Pampulha,em 1940-42 e na casa Juscelino Kubitescheck, ambas em Pampulha, Belo Horizonte.

Niemeyer no Brasil, empregou bastante a solução que resolvia bem os problemas climáticos criados pela adoção dos princípios modernos em volumes puros, contribuindo desta maneira, para a criação de um certo “modismo” na arquitetura brasileira.

Além de Niemeyer, a difusão das casas americanas projetadas por Marcel Breuer me revistas especializadas, em meados dos anos 40, contribuiu mais ainda para a consolidação do emprego desta solução. As casas Robinson(1946-48), casa exposição projetada nos jardins do MOMA(1948-49), la Foote( 1949-50), entre outras, provinham de modelos de casas binucleraes de 1943-45, que se aplicou pela primeira vez na casa Geller1, terminada em 1946 e que se tornou bastante conhecida devido à grande difusão na imprensa especializada.

Outro arquiteto brasileiro que contribuiu para o emprego do telhado em asa de borboleta foi o carioca Sergio Bernardes, que empregou a solução em vários projetos residenciais, premiados inclusive nas Bienais de arquitetura de São Paulo, como por exemplo, as casas Jadir de Sousa(Rio de Janeiro, 1952).

No Recife, o arquiteto carioca, Acácio Gil Borsoi, muito influenciado pela arquitetura produzida em sua cidade natal, adota a solução em todos os seus projetos residenciais dos anos 50.Outro arquiteto que atuou em Recife, o português Delfim Anorim, também adotou os tetos em asa de borboleta em seus projetos, como por exemplo na Casa Miguel Vita(figuras 01 e 02).