3.9.14

Teresina caliente: busca de soluções climáticas

Ano passado publiquei um artigo intitulado Arquitetura do sol, no periódico Vitruvius (http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.147/4466), que aconselho que as pessoas leiam para enriquecer a discussão sobre o assunto e abaixo, respondo às questões do jornalista Luan Mateus do jornal Diário do Povo, de Teresina:



1 - É possível pensar uma arquitetura para Teresina que amenize os efeitos das altas temperaturas?
Sim. Desenvolvendo projetos arquitetônicos e urbanísticos que respeitem inicialmente,  o meio no qual vivemos, preservando o meio ambiente, a vegetação, a topografia, a orientação solar, os condicionantes geográficos, como um todo. E posteriormente, ao utilizar soluções projetuais e construtivas que dialoguem com o meio social, ambiental, e econômico, trabalhando com o conceito de sustentabilidade.
Armando Holanda, um arquiteto pernambucano escreveu um livro, Roteiro para construir no nordeste, e indicava alguns pontos fundamentais:
 "1) Criar uma sombra: comecemos por uma ampla sombra, por um abrigo protetor de sol e das chuvas tropicais; 2) Recuar as paredes: lancemos as paredes protegidas por estas sombras, recuadas, protegidas do sol e do calor, das chuvas e da umidade, criando agradáveis áreas externas de viver; 3) Vazar os muros: combinemos as paredes compactas com os panos vazados, para que filtrem a luz e deixem a brisa penetrar; 4) Proteger as janelas; 5) Abrir as portas; 6) Continuar os espaços; 7) Construir com  pouco; 8) Conviver com a natureza;9) Construir frondoso.”

2 - Quais alternativas, do ponto de vista da construção civil, que podem ser aplicadas no futuro para reduzir a sensação de calor?
As alternativas não devem ser pensadas apenas para o futuro, mas sim, para o presente, como por exemplo:
1. Tirar partido da vegetação local, criando sombras naturais
2.Usar materiais frios, que não absorvam o calor, mas sim, que o liberem.
3.Não adotar modismos arquitetônicos e urbanísticos, mas voltar-se para a realidade local, respeitando as tradições culturais, climáticas do lugar

3 - Os projetos que estão sendo elaborados pelo seu Grupo de Trabalho para a Prefeitura de Teresina contemplam essas questões?
Sim, nossas discussões no GPE/SEMDUH, grupo de projetos estruturantes, estão sempre voltadas para  a questão de sustentabilidade, que é diálogo entre os condicionantes geográficos/ambientais,sociais e econômicos.
Propomos soluções de desenho urbano, de intervenções espaciais para produzir uma arquitetura e uma cidade mais confortável climaticamente, buscando propor replantio de espécies vegetais, para sombreamento natural,; pérgolas que criem lounges urbanos, lugares de convivência, nos quais as pessoas possam desfrutar mais do espaço público de nossa cidade.
Temos, contudo, de colocar em prática,buscar parcerias entre o poder público e a iniciativa privada, com os cidadãos,para que cada um possa contribuir com estas questões climáticas.

4 - Quais intervenções ainda podem ser feitas nas construções já existentes para amenizar o calor?
Plantar mais árvores, deixar mais pavimentações permeáveis, criar áreas sombreadas para passeios, praças, ciclovias, e evitar o uso de cores que absorvam o calor, ou que passem sensações térmicas desconfortáveis.

5 - Teresina se preparou, do ponto de vista das suas edificações, para as altas temperaturas? Ou essa preocupação é recente?
A arquitetura sempre na sua história  esteve voltada à busca de soluções climáticas. Teresina e o Piauí de forma em geral, desde sua formação enquanto lugar, esteve atenta a tais aspectos. Basta se reportar ás antigas casas de fazenda, com seus pés direitos altos, seus grandes beirais e frondosos quintais.
Em Teresina, as moradas piauienses residenciais também usavam em suas plantas,espaços avarandados, com paredes de meia altura para a circulação do ar.
Na modernidade não foi diferente, pois o uso de brises soleils, combogós, buzinotes, pilotis, contribuía com as soluções conhecidas,  basta observar o edifício sede do DER, na av. Miguel Rosa.
Por incrível que pareça, na contemporaneidade, muitos profissionais não respeitam estes condicionantes e têm produzido uma arquitetura que segue modismos, usando panos de vidros para o poente, pedras em fachadas ensolaradas, cores escuras, enfim, criam soluções que pioram cada vez mais a relação arquitetura/clima.

Concluindo afirmo que:

Existe a necessidade urgente e imediata de se buscar soluções para este problema.
Os empreendedores imobiliários que desmatam grandes áreas verdes para construir os condomínios, conjuntos habitacionais precisam estar atentos e procurar diminuir os impactos ambientais dessas obras, que têm deixado
a cidade cada vez mais quente, devido aos desmatamentos da área rural de Teresina, que está sendo urbanizada e descaracterizada.
Para compensar tais perdas, a prefeitura planeja revitalizar parques, praças, plantar mais árvores em avenidas, procurando as melhorias climáticas urbanas.

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