Perspectiva do projeto original do Centro Administrativo do Piauí.
Autoria: Raimundo Dias e equipe
Coleta:Cintia Bartz
A cidade de Teresina, capital do estado do Piauí, é uma cidade planejada e relativamente nova, quando comparada às demais capitais brasileiras de origem colonial, pois data de 1852 a instalação da nova capital. Situada na Chapada do Corisco, região de transição entre o sertão e a Mata dos Cocais, é cortada por dois rios, o Parnaíba e o Poti, possuindo seis meses de período chuvoso (dezembro a maio) e seis meses de estiagem (junho a novembro), com altas temperaturas durante todo o ano, e alta taxa de umidade.
O estilo eclético predominou na cidade desde a sua fundação até a década de 50 do século XX, e a adoção de uma arquitetura moderna só foi possível nos anos 60, com a construção dos primeiros edifícios modernos institucionais, e das casas modernas projetadas pelo arquiteto piauiense Anísio Medeiros e pelo mineiro Antônio Luiz. Ambos de formação acadêmica carioca.
Observando-se a produção arquitetônica no período das décadas de 50 a 60, época de grande desenvolvimento no setor imobiliário durante o pós-guerra em todo o mundo e no Brasil, constata-se que, Teresina, nesta época, ainda era bastante provinciana, e poucas obras públicas foram produzidas neste período, segundo cita Nascimento (2002). O setor privado, contudo, produziu residências, principalmente na artéria principal da cidade na época, antiga Avenida Getúlio Vargas e hoje, Avenida Frei Serafim, que abrigou belos exemplos de arquitetura moderna em toda a sua extensão, bem como, em ruas paralelas ao seu entorno.
Os primeiros projetos modernos eram realizados no Rio de Janeiro, como, por exemplo, os desenvolvidos para o DER e para o Teatro de Arena, adotando os princípios da escola carioca, que baseada na teoria de Lúcio Costa, buscava alternativas climáticas para a utilização da linguagem moderna. Somente no final dos anos 60 é que chegaram à cidade, arquitetos como Antônio Luiz e Miguel Caddah que começaram a desenvolver de uma forma mais contínua intervenções modernas na paisagem urbana.
Teatro de Arena.Autoria desconhecida.
Foto:Kaki Afonso.2008.
O início da produção de Antônio Luiz, mineiro de Juiz de Fora, que estudou na FNA/ RJ, data de meados dos anos 60, e a partir de 1968, criou o escritório “Maloca”, que deu início a uma série de trabalhos que adotaram os critérios da modernidade universal, trazendo para a cidade, a linguagem já disseminada em várias capitais brasileiras.
Antônio Luiz produziu os edifícios mais significativos da cidade, tais como a sede do Ministério da Fazenda, o Palácio do Comércio, o Instituto de Educação, a Casa do Estudante, a sede da CEPISA, várias sucursais do BEP, entre tantos outros projetos, que sempre partiam do princípio que “arquitetura e estrutura não deveriam jamais ser pensados por cabeças diferentes” (Afonso, 2002, p.60).
Miguel Caddah, arquiteto piauiense que também estudou na FNA/ RJ, retornou para Teresina no início dos anos 60, e produziu, principalmente na área educacional, uma série de projetos para o Estado, uma vez que era funcionário público, tendo a oportunidade de desenvolver obras que traziam em seu bojo, a essência do movimento moderno, com a utilização de modulação, atenção à estrutura e aos novos materiais.
Uma das obras mais significativas de Caddah é a Igreja da Santíssima Trindade em Teresina, que data de 1968, e apresenta uma composição em triângulos, emprego de estrutura metálica, resultando em uma arrojada forma plástica que marca a paisagem até nossos dias.
Outro importante personagem que mesmo sendo piauiense, não chegou a morar em Teresina, depois de graduado em arquitetura pela FNA/ RJ, foi Anísio Medeiros, mas que mesmo assim, pode deixar na cidade a sua marca, através de bons exemplares de sua arquitetura, como a casa Zenon Rocha, a casa David Cortelazzi e a sede do Iate Clube. Seus projetos residenciais utilizam todo o vocabulário formal moderno. Empregou em suas obras: volumes puros, grandes panos de esquadrias, pilotis e arrojadas soluções arquitetônicas, seja no partido adotado, seja no emprego de novos materiais.
O arquiteto Anísio Medeiros nasceu no Piauí, mas foi estudar desde cedo no Rio de janeiro, onde permaneceu até sua morte. No inicio de sua carreira, desenvolveu projetos em Teresina, havendo projetado também na cidade de Parnaíba, o Igara Clube.
“Não obstante, o que marca sua produção é a preocupação em buscar soluções climáticas para estes projetos. A utilização de pátios internos (com jardins que chegaram a ser detalhados pelo arquiteto), o uso de cobogós (invenção da arquitetura recifense da década de trinta), o emprego de esquadrias com venezianas de madeira (permitindo uma circulação constante de ar), bem como o uso de ventilação cruzada nos ambientes (com pés-direitos generosos), denotam a busca de uma arquitetura bioclimática sem se distanciar da aplicação formal do modelo moderno.” (Afonso, 2002, p.58).
Atuava também como artista plástico, havendo criado vários painéis executados em Cataguazes e na cidade do Rio de Janeiro, sendo de sua autoria, todos os painéis existentes no Monumento aos Pracinhas.Trabalhou posteriormente com cenografia de filmes, tendo recebido vários prêmios.
O arquiteto e professor carioca Acácio Gil Borsoi, sediado em Recife a partir da década de 50, também produziu importantes obras modernas em Teresina, tais como o Fórum de Justiça, a sede da Assembléia Legislativa, e obras de intervenção em edifícios históricos, desenvolvidas juntamente com sua esposa e arquiteta Janete Costa: reformas na sede da Prefeitura de Teresina, no Palácio do Karnak e no Teatro 4 de Setembro. Todos estes edifícios são neoclássicos, e sofreram intervenções realizadas sem descaracterizar a volumetria dos mesmos.
Além desta produção, existem também àquelas desenvolvidas por arquitetos que estudaram em cidades como Recife, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, que na década de 70, retornaram à Teresina e aplicaram na cidade, o aprendizado adquirido em suas formações, trazendo os recursos da modernidade que foram difundidos por seus mestres.
Além destes profissionais,, chegaram também à cidade, arquitetos oriundos de cidades como Recife (Ricardo Roque) e Fortaleza (João Alberto), que estavam imbuídos de produzir uma arquitetura em sintonia com o seu tempo.Tais fatos contribuíram bastante para uma renovação da linguagem arquitetônica na cidade, que durante muitos anos adotava o ecletismo como estilo arquitetônico projetual.
Rio Poty Hotel.Projeto:Ricardo Roque
Foto:Jandiane Braga.2008.
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