Este texto pretende realizar uma reflexão sobre o quadro da arquitetura contemporânea em Teresina: da formação acadêmica ao mercado de trabalho, observando aspectos que perpassam pelo processo de graduação em arquitetura e urbanismo destes profissionais na cidade, até as atuações distintas no mercado de trabalho local existente. Acredita-se a pertinência de apresentar tal tema como forma de difundir para demais profissionais nacionais a realidade da capital piauiense, localizada no extremo norte da região nordestina, com características ricas e peculiares, muitas ainda, inéditas e desconhecidas por grande parte dos pesquisadores da área, devido à precocidade e incipiência de investigações científicas.
Teresina data de 1852, quando foi planejada pelo Conselheiro Saraiva para abrigar a capital do estado do Piauí, após esta ter sido sediada em Oeiras. O estilo arquitetônico predominante adotado na edificação da cidade foi o ecletismo, que perdurou até o inicio da década de 60, quando foi introduzido ali, tardiamente a arquitetura moderna (AFONSO, 2002). Os projetos arquitetônicos eram realizados por profissionais sediados em outras cidades brasileiras, principalmente na então capital brasileira, o Rio de Janeiro. No que são referentes aos projetos residenciais, estes na maioria das vezes, eram realizados por mestres de obras, que assumiam desde a autoria do projeto até a construção da obra em si.
A partir dos anos 60, piauienses que foram estudar arquitetura no Rio de Janeiro, em Recife, em Belo Horizonte, começaram a retornar trazendo a influência destas “Escolas” para a arquitetura contemporânea local. E, somente em meados dos anos 90, exatamente em 1994, foi criado na Universidade Federal do Piauí/ UFPI, o primeiro curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo, vinculado ao departamento de construção civil e arquitetura, do Centro de Tecnologia. Anos depois, o Instituto Camilo Filho, criou também um curso na área, da qual foram responsáveis as mesmas arquitetas encarregadas pela implantação do curso na UFPI, as professoras Ana Lúcia Silveira e Aline Elvas.
E que resultados a implantação destes cursos trouxe para a construção da imagem da cidade? E de que forma, estes profissionais de formação acadêmica local, interferem e interagem no mercado profissional local?
Observa-se que com o advento de criação destes cursos na área, houve, sem dúvida, um crescimento profissional no mercado de trabalho, antes limitado à prestação de serviços aos escassos escritórios de arquitetura existentes de profissionais graduados em demais cidades brasileiras. Diagnosticou-se ainda, a inserção destes arquitetos graduados em cursos locais, no mercado institucional público e privado, em todos os níveis, federal, estadual e municipal.
Este processo podendo ser compreendido como conseqüência do desenvolvimento sócio- econômico local, decorrente da dinamicidade de políticas públicas na cidade, que nos últimos anos, vem investindo de forma contundente em projetos de infra-estrutura urbana, e nas áreas de saúde, educação, moradia, transportes e lazer, entre outras. Além disso, observa-se também, o fenômeno que ocorreu em todas as capitais brasileiras, a verticalização residencial, que abriu mercado para a arquitetura de interiores, que vem a ser uma das opções de grande parte dos profissionais recém-graduados.
A imagem de Teresina, como uma cidade quente, sem atrativos, sem infra-estrutura, é totalmente inadequada e errônea. Possuindo aproximadamente 800.000 habitantes, uma taxa de urbanização de 94,70; e com PIB per capita (2004) de R$ 4.834,65 (CEM/CEBRAP/ SNH/ MCidades. 2007) a capital vem investindo prioritariamente em serviços de habitação de interesse social e urbanismo, construindo uma nova paisagem, que também, considera, fundamentalmente, os aspectos ambientais, na busca da preservação dos ecossistemas, da paisagem natural e na adoção de soluções climáticas e sustentáveis para as obras contemporâneas executadas.
Para atender a estes aspectos de desenvolvimento de políticas públicas, as instituições de ensino responsáveis pela formação acadêmica profissional, vêm interagindo de forma constante, através do diálogo com órgãos federais, estaduais e municipais, a fim de detectar as demandas do mercado de trabalho, preparando desta forma, o profissional para o desenvolvimento de práticas profissionais coerentes com a realidade.
Um exemplo a ser dado aqui, foi o trabalho desenvolvido para o Conjunto Residencial Jacinta Andrade, no segundo semestre de 2009, pelos alunos de graduação em arquitetura e urbanismo da UFPI. O Conjunto é um empreendimento que vem sendo realizado pela ADH/ Agencia de Desenvolvimento Habitacional do Governo do Estado do Piauí, com recursos do PAC/ Governo Federal e CAIXA, e tem como meta a construção de 4300 casas, abrigando aproximadamente 20.000 pessoas. O empreendimento trata-se de um dos maiores investimentos federais na área em construção no País, e vem sendo alvo principal da política pública estadual e municipal, uma vez que envolve uma série de atores institucionais, como AGESPISA, CEPISA, Prefeitura Municipal de Teresina, entre outros.
O curso de arquitetura e urbanismo, na disciplina de projeto arquitetônico 6, voltada para o desenvolvimento de grandes intervenções arquitetônicas em espaços urbanos, teve como objeto de estudo o desenvolvimento de projetos arquitetônicos voltados para os equipamentos sociais, culturais e de produção econômica para a área. Foram projetadas sete edificações e áreas verdes urbanizadas para proporcionarem melhoria habitacional: 1) Centro de educação ambiental; 2) Centro de serviços e comércio; 3) Centro de lazer e gastronomia; 4) Centro poliesportivo; 5) Centro para Melhor Idade; 6) Centro cultural e, 7) Usina de tratamentos de resíduos sólidos.
A experiência didática em integrar os alunos com a realidade local, e principalmente atuarem em uma área -habitação de interesse social- das que mais se investem atualmente no país ( MCidades, 2009), foi bastante positiva. As constantes visitas ao local, aos canteiros de obra, o diálogo e negociações com os técnicos estaduais da ADH, da CAIXA, possibilitaram àqueles alunos um contato direto com a realidade mercadológica, fazendo com que, por primeira vez, eles projetassem para clientes reais.
Sem dúvida, a cada dia, mais se constata a necessidade de procurar propor novas experiências de ateliers integrados com a pesquisa, desenvolvendo novas estratégias de conhecimento, que procurem romper os limites disciplinares, possibilitando novas propostas de ensino para a formação dos futuros arquitetos que possa fazer face aos desafios da contemporaneidade, específicos a cada realidade sócio- cultural, geográfica e econômica.
Palavras chaves: arquitetura contemporânea teresinense, mercado de trabalho em arquitetura, práticas arquitetônicas contemporâneas.
Referencias bibliográficas.
AFONSO, Alcilia. Arquitetura em Teresina: 150 anos. Da Origem à contemporaneidade. Teresina: Halley. 2002.
Capacidades administrativas, déficit e efetividade na política habitacional. Ride Teresina. CEM/CEBRAP/SNH/MCidades. 2007.
HOLANDA, Armando de. Roteiro para construir no nordeste. Arquitetura como lugar ameno nos tópicos ensolarados. Recife: UFPE/ MDU. 1976.
NASCIMENTO, Francisco Alcides. A cidade sob o Fogo. Modernização e violência policial em Teresina. 1937/ 1945. Teresina: Gráfica Halley. 2002.
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