Imagem da cidade de Amarante. Fonte: http://cirandinhapiaui.blogspot.com/2010/03/em-defesa-de-amarante_26.html
Este texto que se intitula “Usina hidrelétrica Estreito do Parnaíba: impactos ambientais e sócio-culturais na cidade histórica de Amarante, Piauí” pretende abordar a discussão entre paisagem e memória relacionada ao desenvolvimento econômico e tecnológico proveniente da construção de barragens e usinas hidrelétricas, que vem causando impactos irreversíveis ao meio-ambiente, natural e construído.
Tem como estudo de caso, a cidade histórica piauiense de Amarante, conhecida como a “cidade poética do Piauí”, que terá seu centro histórico destruído devido à inundação causada pela construção da Usina Hidrelétrica/ UHE do Estreito do Parnaíba, a ser implantada naquele município.
Com a construção desta Usina, com capacidade de gerar 86mv, e investimento orçado em R$ 521,6 milhões, a área de alagamento para a construção da barragem, será o equivalente a 17,22 Km² e 136 casas serão atingidas. Deste quantitativo de imóveis, observa-se que todos pertencem a um dos mais significativos sítios arquitetônicos do Estado do Piauí.
Segundo informações (SILVA FILHO, 2008, p.119), Amarante teria tido, tal como a nova capital piauiense, Teresina, fundada em 1852, um plano regulador para o seu traçado entre os três cursos d’ água, o Parnaíba, o Mulato e o Canindé, possuindo esquema de parcelamento, com lotes de frente para os logradouros que descem ao rio. Observa-se ainda que, a maioria das casas está voltada para esses arruamentos, conforme pode ser constatado na imagem abaixo .
BARRETO (1975, p.201) escreveu que a “morada inteira”, esparramada, é a casa do Piauí, e observa-se que a cidade de Amarante é a que tem conservado de melhor forma este acervo . No local encontram-se vários exemplares, bem conservados, destas “moradas”, que possuem solução em planta composta de um corredor central de acesso, que se comunica com quarto e alcova, que se repetem para ambos os lados com a mesma disposição.
Uma varanda posterior arremata o bloco, que possui uma edícula de serviço, com cozinha, banheiro e depósito. Não existe recuo frontal e geralmente, as casas são geminadas. Um pátio interno, composto de poço, árvores frutíferas criam um micro-clima e um espaço de transição entre a área externa e interna.
Estas casas possuem paredes internas que não chegam até o teto, permitindo a ventilação constante do ar, deixando á mostra a solução dada à cobertura, que geralmente utiliza a madeira da carnaúba em vigas, ripas, reforçadas com troncos de pau d’arco. O tratamento dado ao revestimento dos pisos, em ladrilhos hidráulicos decorados com motivos geométricos e cores que contrastam entre si, forma ricos tapetes. As esquadrias destas “moradas” também são bastante detalhadas.
A grande contradição é gerada, quando por um lado, se possui um sítio cultural da magnitude do acervo natural e construído, material e imaterial da cidade de Amarante, e de outro, a construção de uma usina hidrelétrica, que para poder funcionar, gerando riqueza e novas oportunidades, terá que “inundar” toda uma história urbana e cultural.
O poeta e embaixador Alberto da Costa e Silva (2010) escreveu em seu blog sobre a hidrelétrica que vai inundar Amarante:
“Chega-me a notícia de que se pretende afogar nas águas de uma represa a cidade piauiense de Amarante. O autor da desastrada idéia não deve saber o que é belo ou lhe ter horror. Assemelha-se a quem planejasse destruir, em Minas Gerais, Mariana ou Tiradentes, ou aterrar, no Rio de Janeiro, a enseada de Botafogo.”
Faz-se necessário que medidas sejam tomadas urgentemente para evitar tal crime ao patrimônio cultural piauiense e nacional. A magnitude do acervo de Amarante não pode ser destruída de forma tão impiedosa, apagando da memória um documento edificado, exemplar único do urbanismo e da arquitetura brasileira.
Referências bibliográficas:
BARRETO, Paulo T. O Piauí e sua arquitetura in Arquitetura Civil. São Paulo: FAUUSP, 1975.
SILVA FILHO, Olavo Pereira da. Carnaúba, pedra e barro na Capitania de São José do Piauhy. Belo Horizonte: Ed. do autor, 2007.
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